segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Ser ou não ser, não é opção


No dicionário Aurélio, a palavra opção está descrita como o ato ou faculdade de optar, livre escolha. Escolha está definida como preferência, predileção, ato de escolher. Infelizmente essas duas palavras são amplamente utilizadas ao falar-se de sexualidade. Opção sexual. Escolha sexual. Já pararam para refletir sobre o real significado dessas expressões? Sobre como elas expressam que por quem nos apaixonamos ou sentimos atração é uma prova de múltipla escolha na qual podemos marcar o X como bem entendemos? Não há coerência nesse pensamento quando pensamos sobre o quanto homoafetivos sofrem quando expostos a sociedade, sendo esta ainda preconceituosa e temerosa em relação ao desconhecido. Como alguém poderia querer viver se escondendo boa parte da sua vida ou sendo agredida verbal e fisicamente?

O filme “Rezando por Bobby”, baseado em fatos reais, retrata de forma bastante cativante e comovente a história de Bobby Griffith, jovem que se descobre homoafetivo e trava uma luta contra si mesmo, influenciado pela família, principalmente a mãe, tentando mudar-se através de orações, terapia, frequentação de igrejas, entre outras atitudes. Esta luta culmina no suicídio do jovem. A partir de então, sua mãe, Mary, começa a tentar entender seu filho, tornando-se uma grande ativista da PLFAG, associação estadunidense destinada a pais e familiares de homoafetivos. Infelizmente, apesar de toda contribuição de Mary Griffith, já era tarde demais para Bobby. Há muitos outros que vivenciaram e vivenciam situações como as do jovem Griffith, é uma boa parcela da população. Sem contar aqueles indivíduos que, ou por não conseguirem ou por não terem condições, não se assumem, é estimado em cerca de 10% a população homoafetiva, de acordo com estudos admitidos pela ONU e pelo IBGE.

A associação americana de psicologia (American Psychological Association), organização que representa os psicólogos estadunidenses, diz não haver estudos conclusivos sobre a origem da orientação sexual dos indivíduos, mas grande parte dos cientistas entra em consenso de que a orientação sexual surgiria de diversos fatores biológicos, sociais e psicológicos desenvolvidos nos primeiros anos de vida. Esta mesma associação, em 1990, definiu que terapias para conversão de orientação sexual não funcionam e trazem mais malefícios do que benefícios.

De acordo com a psicanálise, Freud diz que se a homoafetividade é tida como mistério, assim também o deve ser a heteroafetividade. Segundo Freud, todos nascemos bissexuais, e o que irá definir a orientação monossexual são fatores externos, inerentes ao indivíduo, ao longo do seu desenvolvimento. Nas duas visões científicas, não há opção. Não há escolha.

É absurdo pensar que seres humanos absolutamente normais possam escolher a dor, o sofrimento, a rejeição, o preconceito, o segredo e até mesmo a morte, em casos mais extremos. Por isso, antes de utilizar a expressão “opção sexual” ou “escolha sexual”, pensem um pouco sobre a força que as palavras opção e escolha têm neste contexto. Pode parecer pouco, mas uma simples troca de palavras em nosso vocabulário é um grande passo para mudar a mentalidade da nossa sociedade e para que esta evolua mais e mais em questões humanas.

Marina Oliveira


Uma parte particulamente emocionante do filme "Rezando por Bobby": 

 


Para finalizar, uma foto que eu acho muita fofa e verdadeira ^^


Pois é, aí está o meu post mensal, já que, infelizmente, minha cabeça só pensa uma vez ao mês e olhe lá xD
 

6 comentários:

  1. Muito bom seu texto! Mas mesmo assim vou fazer uma observação: eu acho o termo "homoafetivo" desnecessário... É como dizer heteroafetivo... Não é SÓ uma questão de amor, é de sexo mesmo... Amor e sexo são coisas muito ligadas, é tanto que poucas pessoas se apaixonam sem levar o gênero em consideração. Então, eu acho que esse termo soa como um eufemismo.

    E também achar que gays sofrem o tempo todo é um clichê. É claro que é insuportável conviver com preconceito e discriminação. Isso dá raiva, medo... E é muito importante falar das pessoas que, por esse motivo, acabam tendo suas vidas prejudicadas. Só que tbm ñ é o fim do mundo, em muuuuuitos casos.
    Vou fazer uma comparação: as mulheres. Eu sei que o preconceito nesse caso é extremamente menor, mas... Vivendo numa sociedade tão machista, com tanto desrespeito pelo sexo feminino, as mulheres vivem numa boa. Aliás, a maioria não vê a dimensão disso, tendo elas próprias um pensamento que apoia o machismo masculino... Eu juro que posso citar várias situações.
    E isso tbm acontece com os gays, muitos me dão vergonha, pq excluem totalmente sua personalidade, e resolvem seguir o esteriótipo, de que "bicha não se respeita nem respeita ngm, da em cima de tudo que usa calça e não tem noção do ridículo". Cara, tem muito gay assim, muito mesmo!
    Entende oq quero dizer? Gays tem que ter seus direitos como todos, mas me incomoda que sempre pareça que somos todos iguais: ou todos bons, ou todos ruins, ou todos santos ou todos pervertidos. Somos gente! Só isso.

    Mas eu não estou dizendo que vc pensa assim, eu só queria aproveitar para expor isso.

    Todo esse meu mimimi é pela parte que vc diz:
    "É absurdo pensar que seres humanos absolutamente normais possam escolher a dor, o sofrimento, a rejeição, o preconceito, o segredo e até mesmo a morte, em casos mais extremos."
    Tbm ñ é tão triste, vai depender da história e da personalidade de cada um. Eu mesmo, sou gay, mas isso não me deixa aos prantos. Só me deixa revoltado as vzs com a mente podre de alguns, do mesmo modo que vc, como mulher inteligente, já deve ter tido muito ódio de caras machistas.

    ResponderExcluir
  2. Poxa, meu primeiro comentário grande como um texto (emoção *-*)
    Leo, concordo com algumas coisas que você disse, somos humanos e como tais estamos sujeitos a errar, não importa que rótulo seja utilizado para nos definir. É uma questão muito difícil essa de defender minorias que são ou foram oprimidas, como negros, mulheres, gays, já que o argumento do preconceito pode ser utilizado de forma indevida para desculpar algum ato errado de alguém (exemplo, condenam-se os machistas, porém não se condena as feministas, que fazem a mesma coisa, só que ao contrário). Mas, na minha visão, se uma só vida é machucada por causa de preconceito, já é algo muito ruim! Sei que muitas pessoas têm força o suficiente para passar por problemas sem serem derrubadas por isso, mas outras não conseguem, como você disse, depende da personalidade e do contexto de cada um, então penso naqueles que não têm essa "sorte".
    E quanto a parte da homo/heteroafetividade, eu prefiro essas expressões por que acho o sexo um modo de expressão de amor, embora para outros seja algo apenas instintivo. É uma preferência pessoal mesmo, utilizar essas palavras xD

    Ah, obrigada pelo seu comentário ^^

    ResponderExcluir
  3. de nada! ^^
    mas quer ver um bom filme gay?
    The Linving End

    http://www.megaupload.com/?d=5SMUBSPS

    se divirta! =P

    ResponderExcluir
  4. kkkk Ok, talvez eu veja depois ^^
    Ei, caso ainda veja essa resposta, desculpa por ter te corrigido lá no blog "A Bíblia do Rock", pensava que vc realmente não tinha percebido que era a assinatura do Renan, não entendi a piada xD

    ResponderExcluir
  5. Esse comentário é só para consertar um trecho altamente ignorante que escrevi no primeiro comentário que escrevi aqui:

    "(exemplo, condenam-se os machistas, porém não se condena as feministas, que fazem a mesma coisa, só que ao contrário)"

    Por favor, se alguém que tem mais noção do que esse meu eu que escreveu isso, não se revolte contra mim, minha metamorfose ambulante permitiu que hoje eu enxergue a bobagem que disse aí. Hoje em dia conheço o real significado de feminismo e em breve farei um post sobre ^^

    ResponderExcluir
  6. Adorei o que escreveu!! E o vídeo do filme me emocionou... Não sou tão boa com palavras, mas quero defender essa causa e espero conseguir.

    ResponderExcluir