Aceitemos que o diferente não é natural. Que o diferente é
uma distorção do ser humano. O normal é o homem ter nascido para ser homem e
amar a mulher. E a mulher ter nascido para ser mulher e amar o homem. Querer
mudar o gênero com o qual nasceu, amar alguém do mesmo gênero que você é uma
distorção mental. Amar ninguém também é uma distorção. Ou não querer transar com ninguém. Não querer viver com
apenas uma pessoa para o resto da vida é outra distorção. Modificar o próprio
corpo em busca de beleza, identidade, também. Todas essas fugas do
comum são distorções mentais, pois não foi assim que o ser humano foi feito,
não é assim que ele nasceu. Certo, admitamos tudo isso. Deixamos, então,
satisfeitos os que têm fobia ao diferente.
Agora, está na hora de outra verdade. E essa verdade é que
o ser humano não nasceu para ser o que é. Pois ele possui duas pernas para
caminhar, braços para manusear, órgãos para reproduzir. Ainda que tenha sido
feito para caminhar, o ser humano desejou se lançar ao oceano, ao ar, ao
espaço, buscar formas mais rápidas para se locomover. Ainda que tenha sido
feito apenas com mãos, o ser humano desejou moldar a madeira, a pedra, o metal,
os minérios e tantos outros elementos para auxiliá-lo na transformação do
mundo. Ainda que tenha sido feito com órgãos cujo intuito inicial era a
reprodução, o ser humano desejou o prazer, e esta busca religião alguma jamais
conseguiu refrear.
O ser humano sempre desejou e realizou ir além. Invadir os
limites da sua capacidade física e os territoriais que sua anatomia impunha,
explorar as possibilidades de transformação do mundo, procurar a ordem que
ditava o sistema do mundo. Essas buscas sempre foram uma sina do ser humano,
que permitiu o desenvolvimento dos mitos, da religião, da ciência e da
tecnologia. E não foi por escolha, o desejo por essas buscas é irrefreável e
apenas prisões externas poderiam impedi-lo de se manifestar, assim como
impediram algumas vezes e impedem hoje na busca do íntimo.
Por que seria errado ir além e explorar a própria mente, a
própria sexualidade, o próprio desejo, a própria aparência (não porque a
sociedade exige que você se adeque a um padrão de beleza, mas para procurar seu
próprio padrão)? Por que é louvável ousar em explorar o ambiente onde se
encontra (atingindo assim a todos), porém é reprovável explorar o próprio
íntimo (que diz respeito apenas ao próprio indivíduo)? Fernando Pessoa, sob pseudônimo de Álvaro de Campos, falava sobra a importância de "arrumar a mala de ser". Ora, nós arrumamos a mala para viajar, então sigamos o conselho do grande poeta e viajemos no infinito do nossa alma e seus desejos.
Se esse texto fosse uma batata, seria uma batata excelente!
ResponderExcluirkkkkkkk Obrigada, Dhanylo ^^ É ótimo ser quem produziu a batata rs
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